sábado, 20 de novembro de 2010

As Barras de Ouro do Brasil Colônia de Portugal

P. P. Balsemão


Ouro: elemento químico de número atômico 79 e peso atômico 196,967, fundi-se a 1063° e entra em ebulição em 2970°.

Empregado na antiguidade, desde a civilização Egípcia, era aplicado nas armas, mobiliários, vasos, taças, tronos, candelabros e instrumentos musicais.

Na Idade Média, os melhores trabalhos em ouro eram Bizantinos. A ourivesaria teve papel destacado nos períodos carolíngeo, romântico e gótico, e atingiu no renascimento seu esplendor.
A existência do ouro no Brasil, era conhecida desde a primeira metade do século 16, consequencia de expedições destinadas à caça do Índio. A continuidade da busca do ouro e a caça do índio foi fator determinante de nossa expansão territorial.

O ouro passou a ser primordial para as finanças da metrópole, elevando-se constantemente à produção. De 725kg em 1669, passou-se a 4350kg em 1703, atingindo-se em 1712, 14500kg.

Instaladas as casas de fundição era retirado das barras "o quinto" devido à coroa. A colonização devia observar anualmente a tributação mínima de 10 arrobas. Não alcançando este mínimo seria decretada a "derrama", que consistiria na complementação obrigatória pela população das regiões mineiras dessa taxa. A expectativa da "derrama" foi das principais causas da conjunção mineira.

Casas de Fundição

O regimento das terras minerais do Brasil, editado em 1603, determinava que o governador mandasse fazer uma casa de fundição a qual "virá todo material de ouro e prata que das minas se tirar para nelas se fundir". Das várias casas de fundição que funcionaram no Brasil são conhecidas barras oriundas de:

Vila Rica, fundada em 1720, iniciou seus trabalhos em 1725. Esteve fechada entre 1735 até 1751. Funcinou até 1732.
Cuiabá: fundada em 1751, funcionou até 1723.
Goias: a casa de Vila Boa de Goias, foi fundada e, 1751.
Rio das Mortes: foi fundada em 1751, funcionou até 1818.
Serro Frio: também fundada em 1751, funcionou até 1832, sendo extinta em 1833.
Sabará: fundada em 1751, operou até 1832, sendo extinta em 1833.
Mato Grosso: iniciou os trabalhos em 1772, tendo sido transferida para Cuiabá em 1819.

As capitanias de Mato Grosso e Cuiabá faziam parte da capitania de São Paulo.

Procurarei relatar ainda que de uma maneira singela o processo de fabricação das "barras de ouro" produzidas pelas Casas de Fundição que funcionaram no Brasil colônia desde o século 16, sendo de forma mais organizada desde 1755 até 1833 já no Brasil império e que durante um bom tempo circulavam como "moeda corrente", especialmente nas províncias do interior.

Com equipamentos e ferramentas primitivas, mas com habilidades de verdadeiros artesões, eram produzidas verdadeiras joias, como o são até nossos dias as barrinhas provindas de nosso ouro.

De como se fundiam as barras: o ouro era recebido nas casas de permuta, em intendências e casas de fundição, no estado em que saia das lavras: em pó, em pepitas, etc. das mãos dos faiscadores, garimpeiros ou mineradores que deviam entregar tal como tinham encontrado. Despejavam de suas "broacas" sobre a mesa do "fiscal", pesando cada lote, descontava-se então, já "o quinto" ou seja: 20% do peso bruto, sendo o restante para fundir as ditas barras de variados tamanhos sempre de acordo com o ouro entregue. Recebia o portador então um "recibo" do ouro e posteriormente viria a receber a barra já fundida, pronta, marcada com seu número, data, peso, toque, marca do ensaiador e tendo em uma de suas pontas as armas da coroa.

Essas maravilhosas e valiosas peças encontram-se em mãos de poucos estando em sua maioria guardadas nos museus mais importantes do Brasil.

Ouro em Pó e em Barras, de K.P.
BACEN - Banco Central do Brasil.

Descrição das Barras:

Barra N° 121 – Peso 38g – K. P. n° 113 – Histórico: esta barra era da coleção do Comandante Alberto Rocha, Rio, em fins de 1931 vendeu a coleção por intermédio de Santos Leitão e Cia. Rio. Constava na lista de vendas daquele negociante em 06/10/1931 por Rs$ 2:500$000. Em 27/05/1932 o Dr. Edgar de Araújo Romero, do Museu Histórico Nacional, deu um certificado desta barra, que em 09/05/1942 me foi mostrado pelo Sr. Agostinho da casa de câmbio – Casa Gonçaga (Avenida Rio Branco, Rio) que também possuía um decalque da peça que aparentemente tinha comprado e a vendido ao Dr. José Luiz de Araújo, de Niterói. Este colecionador era dono da barra em 1941, quando publiquei meu livro: Circulação de Ouro em Pó e em Barras do Brasil, em que descrevi e ilustrei a peça sob referência n° 32 com um desenho que este colecionador me deixou tirar de uma decalque que me emprestou. O Dr. J.L. de Araújo parece ter vendido a peça ao Sr. José Júlio de Andrade que então novamente mandou fazer a classificação pelo Museu Histórico Nacional. O negociante Miguel Sales, do Rio, retalhou a coleção do colecionador José Júlio de Andrade 19/12/1946 e vendeu esta barra por CR$ 7000 ao Sr. Hermann Porcher, de São Paulo, que por sua vez, vendeu a Hans M. F. Schuman, de Nova York, em 21/01/1947. Hans M. F. Schuman, por sua vez vendeu a peça ao Rei Farouk, do Egito e quando a coleção deste rei deposto foi desapropriada e vendida, constava ela no catálogo respectivo da casa Spink, de Londres, sob referência n° 18 (Sohebi, Londres – base: 90 libras).

Barra n° 856 – Peso 28,50g – Histórico: veja a descrição da barra falsa – “F. P.-1813 - V-2723”. Antes de 1941 este peça deve ter existido autêntica, pois a peça falsa, acima citada, foi por ela moldada com excepcional perícia e fidelidade naturalmente variando o peso que na legítima devia ser “teoricamente” de 26,10g, quando a falsa peça apenas: 14,86g.

(Duas réplicas de barra de ouro, uma de Vila Rica, n° 121 e outra de Serro Frio, n° 856). Ouro em pó e em barras – K.P.

Do Gravador P. P. Balsemão

Ivoti, 20 de Novembro de 2010.

Um comentário:

  1. Esclarecedora a descrição do processo de controlo e produção das barras de ouro. Útil para descrever aos meus alunos de História, em Portugal, onde no 6.º ano (têm eles cerca de 11 anos) falamos do ouro e das pedras preciosas do Brasil (séc. XVIII).

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